quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mais uma Aberração

Mais uma patifaria ganha destaque na política brasileira. Ex-governadores, que ocuparam o poder por no mínimo 4 anos, tem o direito a uma pensão vitalícia. Pensão essa que varia de 11 a 25 mil reais. Quando achamos que já vimos toda sordidez possível nesse país, nossos parlamentares inventam mais essa.     
            O descrédito na política nacional é inevitável frente a essas coisas absurdas. Parece que ainda vivemos sob o regime monárquico, onde a família real e os detentores de títulos de nobreza recebem uma atenção privilegiada.
            Que trabalhador doa tão pouco tempo de sua força de trabalho em troca de uma aposentadoria encorpada como esta? Nenhum. Apenas os escolhidos têm esse privilégio. Em sociedades como a nossa, alimentada pela ideologia calvinista, os iluminados são poucos.
            Na história da humanidade as mudanças estruturais que ocorreram nas sociedades foram regadas por muito sangue e luta. Os escravos, os camponeses, os índios, os operários, as mulheres. Todos tiveram que se organizar para provocarem alterações em suas vidas.
            Na Europa e nos Estados Unidos foi preciso o capitalismo se reformular para não despencarem. O Estado de Bem Estar Social amenizou inúmeros problemas e recolocou o consumismo do sistema em seu devido lugar. A economia precisava se locomover e foi necessária a ampla participação do Estado neste processo.
            No entanto, vivemos em tempos diferentes. O neoliberalismo, que promove o analfabetismo de países subdesenvolvidos está dominando este cenário. Se discutimos política, somos chatos. Se criticamos, somos inimigos do desenvolvimento.
            A sociedade está perdendo sua capacidade de se indignar. Tudo, mesmo sendo descarado, tem que ser aceito, pois a cultura da aceitação está sendo divulgada pelos homens que comandam nossa nação.
            Temos que aceitar um aumento salarial de R$16000,00 para parlamentares e um reajuste de R$35,00 para os trabalhadores. Temos que aceitar vereadores, deputados e senadores envolvidos em escândalos que suas próprias mães se envergonhariam. O pior, sem nenhuma punição. Temos que aceitar um sistema que privilegia única e exclusivamente a elite.
            Ainda tenho o poder de indignar-me. Por isso escrevo estas poucas linhas sobre o assunto. Sinto-me roubado a cada dia que vejo o quanto pagamos de impostos sem recebermos a devida atenção do Estado. Educação, saúde, segurança são desprezados. Nascemos num país com um potencial natural inigualável, com um orçamento trilionário, temos um povo trabalhador que mata um leão por dia para sobreviver.
            Camponeses, escravos e outros grupos que foram massacrados na história pegaram em armas para lutarem contra seus algozes. A necessidade faz o homem cometer crimes bárbaros. Um dia, toda esta violência ultrapassará as barreiras dos condomínios de luxo dos ladrões desta nação. Um dia, um dia.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O Abandono da Educação no Amazonas

            Mais um ano se inicia e a ladainha é a mesma. A preocupação do poder público com o sistema educacional do país. Os discursos são sincronizados em afirmarem que uma sociedade só evolui através do investimento educacional, porém os números mostram que o Brasil não progride nesta área.     
            Os exemplos na história demonstram o que uma educação de qualidade pode proporcionar para os envolvidos. O fenômeno mais visível é o da Coréia do Sul, que em 40 anos erradicou o analfabetismo e pôs mais de 80% de seus jovens nas Universidades. Com investimentos maciços na educação básica, os asiáticos migraram da miséria para a prosperidade em menos de meio século.
            No entanto, essas mudanças só são possíveis em países sérios e que castigue incondicionalmente a corrupção. Infelizmente não é o caso do Brasil, pois aqui a impunidade já virou cultural e a aliança dos três poderes dificulta a punição dos corruptos.
            O curioso é que nossa educação vai de mal a pior e nossos governantes, de maneira mais cínica possível, vão à frente às câmeras divulgarem melhoras que apenas eles enxergam. Se a educação é tão boa assim, por que nenhum filho da burguesia estuda em escola pública? E os filhos de parlamentares e membros do Executivo e do Judiciário, por que não se matriculam nessas instituições?
            A resposta é simples e óbvia. Os pais querem o melhor para seus filhos. No ranking das 50 melhores escolas da região norte, apenas 9 se encontram no Amazonas. Desses números somente uma é pública, mesmo assim federal. Nenhuma instituição administrada pelo governo do Amazonas aparece na lista, demonstrando o quão está abandonado o sistema educacional no Estado.
            Escolas sucateadas, salas sem nenhuma condição de praticar o ensino-aprendizagem, professores desmotivados e com salários defasados. Essa é a verdadeira realidade da educação no Amazonas. O descaso é tamanho que o representante do Executivo Estadual anunciou um reajuste salarial para os educadores e não cumpriu, demonstrando a importância dessa categoria para o futuro do Estado.
            Infelizmente, com um sindicato pelego e que não representa os interesses dos educadores fica difícil a mudança estrutural desse sistema. Os professores continuarão trabalhando em precárias condições e com baixos salários. Enquanto isso, nossos parlamentares matricularão seus herdeiros nas melhores escolas privadas do Estado, pois como já havia dito “os pais querem o melhor para seus filhos”.

sábado, 8 de janeiro de 2011

O Golpe Desnecessário

     As eleições estaduais no Amazonas em 2010 revelaram dois políticos sem brilho. De um lado o insosso Alfredo Nascimento (PR) e do outro o subordinado Omar Aziz (PMN).
     Os dois de trajetória parecida, pois foram trazidos para a vida pública através do ex-coronel Amazonino Mendes. A diferença é que o paulista acumulou inúmeros cargos de vice, enquanto que o nordestino foi prefeito e conseguiu a proeza de se transformar em ministro.
     Quando a campanha esquentou, o desesperado potiguar resolveu adotar uma estratégia de repúdio à pedofilia, referindo-se ao suposto envolvimento de seu opositor com os (as) menores de idade. A tática se revelou inútil, pois o candidato do governador teve quase o triplo de votos de Alfredo.
     Com um repertório mais vasto, Omar venceu com facilidade as eleições. É claro, devemos levar em consideração que a insistência do Braga em eleger Aziz teve motivos exclusivamente pessoais, já que em 2014 o caminho fica aberto para o atual coronel do Estado. A possibilidade de engolirmos o ex-governador por mais 8 anos é enorme.
     Eduardo Braga conseguiu o que queria. Elegeu-se com votação recorde, desbancou seu desafeto Artur Neto e pôs no poder um aliado que só pode ficar no Governo por 4 anos. Alguém questiona a popularidade do coronel, principalmente entre os miseráveis e analfabetos funcionais?
     Aliás, a invisibilidade de Omar é tão grande que ele conseguiu ser anulado por sua esposa. A sua companheira, com atitudes assistencialistas, hoje é mais popular que o atual governador.  
     Mas a atitude grotesca da campanha foi um golpe divulgado por Aziz, mesmo quando as pesquisas já o apontavam como governador. Golpe desnecessário, pois a vitória já estava garantida. Divulgar um aumento de 100% aos educadores demonstrou a fraqueza do atual chefe do nosso Estado.
     A debilidade política do atual Governador é tamanha que foi preciso uma mentira descarada contra os professores para ganhar a eleição. Volto a dizer Golpe Desnecessário, pois quando dois insignificantes estão na disputa, o menos pior leva vantagem. Omar Aziz, o menos pior entre os piores.


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Poder da Imprensa no Golpe de 1964

     O objetivo deste artigo é analisar o poder que a imprensa exerce junto à sociedade, influenciando as memórias de gerações e incentivando a aceitação de verdades conforme os fins daquele jornal.
     Em 31 de Março de 1964, jornais por todo o Brasil já divulgavam o que estava por vir, o golpe militar um dia depois. No entanto, as notícias desqualificando o governo João Goulart e tratando o desfecho de 1° de abril como um ato revolucionário era visível. O Correio da Manhã, do dia anterior à tomada do poder, estampava a manchete, “O Brasil já sofreu demais com o governo atual. Agora chega”. No Tribuna da Imprensa, da mesma data, publicava, “Os democratas assumem os comandos militares. Rio festeja a demissão” (CAPELATO, 1994, p. 53).
     Nota-se o caráter impactante das notícias e o poder que a imprensa possuía e possui para a construção da memória coletiva de uma dada sociedade. Conforme Gérard Lebrun “a força não significa necessariamente a posse de meios violentos de coerção, mas de meios que permitam influir no comportamento de outra pessoa” (LEBRUN, 2004).
     Marialva Barbosa, por exemplo, em seu Os Donos do Rio, fez um trabalho minucioso de investigação das relações de poder entre os empresários-jornalistas e os governos federal e estadual. As trocas de matérias encomendadas entre jornais e governos eram presentes desde o início da república.
     Então, esses periódicos se auto-constroem em parceria com os governos estabelecidos, possuindo um poder inquestionável, já que terão a função de formar um discurso unificado. Priorizando conteúdos e desprezando outros, esses jornais, estão construindo memórias da sociedade sob determinada ótica.
     O jornalista, ao selecionar certos fatos e relegar outros ao esquecimento, possui o poder do que deve ser explorado ou não na sociedade. Eternizar um momento é domesticar e selecionar a memória. Os jornais, nesse sentido, atuam como senhores da memória, já que escolhem o que deve ser lembrado ou esquecido. Conforme Le Goff, a memória escrita está diretamente ligada a poder.
     O Jornal do Brasil, por exemplo, no início criou-se uma imagem de um periódico popular e destinado a fiscalizar os absurdos do poder, no entanto, ao final do século XIX, assume, nitidamente, uma postura de defensor dos grupos políticos e econômicos que o financiava. Essa função de intermediário dos leitores com o poder público dá ao jornal popularidade e poder, no qual, invariavelmente, os periódicos são procurados pelos poderosos para agir conforme seus interesses.
     Entretanto esta conivência não era gratuita, já no governo Prudente de Morais a troca de favores com os periódicos era freqüente. Havia distribuição de verbas a jornais de confiança do presidente.
     A Gazeta de Notícias recebia mil réis por matéria encomendada. João Lage, de O Paiz, afirmava que a subvenção é uma atividade própria do jornalismo. Entre 1903 e 1905, o empresário obtém, do Banco da República, empréstimos no valor de 1250 contos.
     Em 1911, o Jornal do Brasil conseguiu empréstimos junto ao Banco do Brasil. Campos Sales afirmou que distribuiu, no período, um milhão de contos de réis à grande imprensa carioca. Durante o governo FHC a aliança do governo com a grande imprensa também foi denunciada por estudiosos (LESBAUPIN, 1999). Percebe-se que o caminho de poder e imprensa se entrecruzam. Para Francisco Falcon “História e poder são como irmãos siameses, separá-los é difícil; olhar para um sem perceber a presença do outro é quase impossível” (FALCON, 1997). O poder manifestado na imprensa é um poder persuasivo, onde o convencimento se mostra mais eficaz que a violência.
     Durante as articulações para o golpe de 1964, o convencimento para tal ato estava presente em muitos periódicos, porém junto à persuasão veio a violência. Conforme Foucault, a dominação capitalista não conseguiria tanto êxito se fosse apenas baseada na repressão (FOUCAULT, 1979). Nelson Werneck Sodré, em análise semelhante, afirmava que um grande jornal, hoje, é uma empresa capitalista de grandes proporções. “A dominação se exerce dispensando o uso de força militar, e sim pelo uso da propaganda e do convencimento [...] Quem controla a imprensa e os meios de massa não precisa mais de golpes militares” (SODRÉ, 1999, p. 12-13). O filósofo francês, precursor nesta análise referente às relações de poder, transformou o assunto em regra estabelecida. Hoje, é praticamente inexistente a negação das relações de poder nas diversas esferas da sociedade.
     A partir das influências foucaultianas, a história política deixa de se preocupar apenas com a organização e relações de poder no Estado, para analisar também as relações políticas entre grupos sociais diversos. São essas relações presentes na imprensa, cujos interesses se voltam para analisar uma classe dominante.
     Para Foucault não existe uma teoria geral do poder, ou seja, o poder não é algo que tenha natureza ou essência com características universais. O poder não é global e unitário, e sim uma prática social em constante transformação. Esse poder é caracterizado como micro-poder, pois apesar de não ser o poder estatal, penetra na vida cotidiana do indivíduo, intervindo diretamente e materialmente. O autor não considera o poder uma mercadoria, rejeitando assim o modelo econômico, ou seja, para ele é uma relação de força, onde não há uma disputa que se ganha e se perde, mas uma relação de dominadores e dominados.
     O pesquisador, ao investigar um jornal, procura saber quem são seus proprietários e editores, a quem se dirige e quem quer conquistar (CAPELATO, 1994). Mapeando esses dados, conseguirá um perfil provisório do periódico, pois atualmente os historiadores reconhecem que os fatos são fabricados e não dados. Não abandonaram a busca pela verdade, esta continua sendo o grande objetivo, porém reconhecem que possuem muitas verdades. Capelato indicou Foucault como um dos que revolucionou a análise do documento-jornal como fonte de pesquisa.
     Em 1964 houve inúmeras manobras criadas pelos meios de comunicações para cooptarem todos aqueles que estavam contrários à ditadura. Os assassinatos nos porões dos quartéis eram noticiados como suicídios. Qualquer posicionamento contrário ao regime era rapidamente denegrido pela grande mídia. Já os jornais alternativos foram as grandes vozes que destoavam o discurso estabelecido, que balançavam os alicerces do governo. A sua existência era o que de mais democrático existia na imprensa brasileira.
     Porém, nem só a imprensa nanica sofreu as restrições dos governos militares. Com a imposição do AI-5 muitas redações são invadidas e fechadas. O Última Hora, de Samuel Wainer, perdura até 1971 e A Tribuna da Imprensa sofreu repetidos atos de violência.
     O casamento entre história e teoria é essencial a toda pesquisa historiográfica e sociológica, para que não ocorra uma simples narração. O motivo pelos quais os veículos de comunicações pouco publicaram sobre a morte de Vladimir Herzog, ou sobre a morte do estudante Edson Luís de Lima já demonstrava o posicionamento do jornal.
     Perceba que os inimigos dos militares são sempre retratados como líderes subversivos e perigosos. O Jornal do Commercio estampava a manchete Marighela Teve o Fim Que Procurou (JORNAL DO COMMERCIO, 06/11/1969), ressaltando que sua morte representou uma derrota para o terrorismo. O poder que a imprensa exerce junto à sociedade e a parceria entre empresários jornalistas e governos estabelecidos foram visivelmente demonstrados na história da república do país.
     No âmbito dos veículos de comunicações as organizações de esquerda eram mostradas para a sociedade em geral como grupos terroristas que visavam tomar o poder das forças democráticas. “Vitória não foi do exército, foi do povo”, anunciava o general Olympio Mourão Filho ao Jornal do Commercio do dia 04 de abril de 1964, referindo-se ao golpe, demonstrando o quanto os periódicos amazonenses tendenciaram na divulgação das notícias no período.
     Percebe-se que falar em democracia em um país onde grandes empresas jornalísticas possuem amplos tentáculos com o poder político é um tanto contraditório. Durante o período militar os valores democráticos foram postos à margem da sociedade, no qual não só as classes populares foram prejudicadas, como também uma parcela das classes conservadoras que não concordavam com o autoritarismo dos militares.
     A agressão à democracia era constante no Estado Autoritário. Naquela época havia muitas vozes que eram caladas pelas torturas e pelo medo, hoje essas vozes foram silenciadas por um grupo político que transforma a mídia num aparelho unilateral, onde as discussões que põem em cheque este Brasil neoliberal são tiradas do ar em prol da imagem de um país que não existe.
     De acordo com Gramsci é este, de fato, o papel do jornalista. Um executor do grupo dominante, mediando suas ações, divulgando-as e buscando, principalmente, o consenso e o apoio espontâneo da população.
     Segundo Maria Helena Capelato “desde os seus primórdios, a imprensa se impôs como uma força política. Os governos e os poderosos sempre utilizam e temem; por isso adulam, vigiam, controlam e punem os jornais” (CAPELATO, 1994, p. 13). A Revolução faz ressurgir um Brasil mais autêntico e liberto (JORNAL DO COMMERCIO, 10/04/1964), enfatizava Plínio Coelho no Amazonas, ao se pronunciar sobre o golpe. Exército consolida a revolução democrática, exaltava o mesmo jornal (JORNAL DO COMMERCIO, 03/04/1964).
     Nota-se que o jornal usa, insistentemente, o termo revolução, a fim de caracterizar o ato anticonstitucional como democrático, assim como demonstrar para o leitor que aquele episódio era inevitável para a construção de um país livre e democrático. 
     Para Flávio Aguiar a grande lição que os golpistas tiveram após o episódio de 1961, era que dessa vez tinham que neutralizar qualquer tipo de oposição na imprensa, para que se divulgasse o ideal de Brasil que lhes fosse interessante. Daí os inúmeros mecanismos criados pelos militares para controlarem os veículos de comunicações. Controlando a notícia, dominava também a memória da população civil, penetrando e impondo um ideal.
     Tudo que foi exposto sobre a história da imprensa no Brasil, só nos mostra o quanto esta foi e é pragmática. Toda a grande imprensa, seja jornal, revista, televisão ou rádio, está compromissada com a classe dominante. A manutenção do poder estabelecido é o seu objetivo, sendo assim não se pode classificar este contexto como democrático. Durante a década de 1960 o eixo a ser combatido pelos militares, como enfatizava a grande imprensa, era o governo João Goulart, que se distanciava das estruturas político-econômicas vigentes no país, defendendo e propondo a reforma agrária e a nacionalização de empresas internacionais. Apenas com o endurecimento da repressão apareceram outras vozes discordantes desta conjuntura. Os jornalistas passaram a atuar clandestinamente para combater a ditadura. Setores da igreja aliavam-se aos revolucionários, onde, posteriormente, será uma das alas que formarão o PT. Atualmente, essa que era a grande voz da oposição, reforça o discurso das elites brasileiras, entoadas por toda a imprensa neoliberal.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A Consolidação Neoliberal no Brasil


O capitalismo no Brasil sempre esteve presente como sistema político predominante. Num primeiro momento predominando o nacional-estatismo, porém sem o bem estar social preconizado por Keynes, e posteriormente um capitalismo transnacional, iniciado na década de 1990 durante o governo Fernando Collor de Melo. Vale lembrar que mesmo nacionalista, o capital estrangeiro nunca esteve desligado da economia deste país, pelo contrário, caso fosse para somar ao desenvolvimento da nação a parceria era sempre bem vinda.
Guido Mantega, hoje ministro da economia, fez um excelente trabalho sobre as teorias e modelos econômicos que atuaram no Brasil a partir de 1930. A teoria desenvolvimentista é retratada em “A Economia Política Brasileira”, onde o surgimento da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) na década seguinte tornar-se-á o principal baluarte da industrialização no país.
Vale ressaltar que, naquele momento, a necessidade de um surto industrial no Brasil era unânime até mesmo entre os esquerdistas, já que segundo o PCB para se chegar ao socialismo era preciso o desenvolvimento das instituições burguesas, pois viam o país como arcaico, onde ainda prevaleciam relações feudais.
As interpretações equivocadas dos partidos de esquerda contribuíram para esta visão deturpada da realidade brasileira, onde Leandro Konder em sua “A Derrota da Dialética” nos ajudará a compreendê-las. A metodologia do comunismo stalinista foi um duro golpe nas ideias marxistas por todo o mundo. O PCB não só aceitou esta conjuntura, como também abandonou a via revolucionária para chegar ao poder. A conciliação de classe tornou-se mais plausível.
Intervencionistas e liberais sempre comandaram a economia e a política deste país, onde durante a década de 1990, os segundos entraram com mais eficácia nesta disputa e permaneceram como modelo econômico vigente até os dias atuais. A análise do porque desta permanência possibilita a explicação da atual situação do Brasil neoliberal. Ivo Lesbaupin organizou um livro, “O Desmonte da Nação”, no qual diversos estudiosos interpretaram o modelo neoliberal de FHC, sendo de grande valia para a compreensão do governo Lula.
Logo, percebe-se que a consolidação deste modelo é uma realidade que está sendo conduzida com muita precisão pelos petistas. A vitória do neoliberalismo no Brasil serve para explicar a falência econômica, política, social e cultural da classe trabalhadora que alienada e preocupada com a sobrevivência deixa as principais decisões do país nas mãos de usurpadores e corruptos.
A mudança nos objetivos dos homens que praticam política também é um reflexo deste modelo vigente hoje neste país. A luta por um Brasil mais decente e democrático, tanto no sentido político, quanto no sentido econômico, visando uma melhor distribuição de renda, foi substituída por anseios pessoais. Um carro importado, uma gorda conta bancária, uma alta posição no Governo cooptou aqueles antigos lutadores de nossa sociedade. Veja o exemplo daqueles opositores da ditadura que atualmente são os mais eficazes inimigos da classe trabalhadora.
O PCB da década de 1930 interpretou erroneamente um Brasil semi-feudal e dominado pelo imperialismo sem a possibilidade de uma revolução socialista, sendo necessário o desenvolvimento capitalista para se chegar ao socialismo, num modelo denominado por Guido Mantega de “democrático-burguês”.
Atualmente não há mais como haver erro de interpretação da realidade brasileira. As condições miseráveis, devido a esse modelo econômico, estão visivelmente esboçadas. O que dificulta uma possível mudança é o analfabetismo funcional presente na população brasileira. Emir Sader classifica como o “novo analfabetismo”, no qual a mídia associada a esse modelo neoliberal contribui para a inércia da classe trabalhadora, manipulando informações de cunhos principalmente quantitativos, desprezando a boa qualidade.
Segundo Armando Boito Júnior o Brasil nunca viveu um estado de bem estar social. Portanto a política desenvolvimentista das décadas de 1950-60 se concretizou em torno de um Estado onde esta incipiente burguesia industrial pouco realizou para a melhoria da classe trabalhadora. Apesar da CLT conseguir atender a esses anseios, Vargas minou qualquer aproximação dos socialistas aos proletários, através de sua política sindical corporativista e atreladora.
Conforme Ivo Lesbaupin o neoliberalismo é um fenômeno interior, determinados pelos governos locais. Portanto privatizar essa ou aquela empresa estatal é um desejo dos grupos políticos que estão no poder.
Dizer que o neoliberalismo é inevitável e invencível é uma falácia. O mito que se deve quebrar com relação a este modelo político-econômico é o do crescimento. A imprensa sempre atuou e atua como divulgadora e aliciadora desses índices, cujos gastos públicos são suprimidos e a classe trabalhadora é a mais prejudicada, através de baixos salários e excessiva jornada de trabalho. Esse tal crescimento não é acompanhado de um desenvolvimento, pois os ricos ficam milionários e os pobres se aproximam da miséria.
O Governo e a Imprensa sempre propalaram um crescimento econômico desde a época de FHC, porém esta melhora não é sentida pela maioria da população, fazendo uma clara referência ao milagre econômico do Regime Militar. Nas palavras de Delfim Neto “vamos fazer o bolo crescer para depois reparti-lo”. No entanto apenas uma minoria participa deste aniversário, pois este mesmo bolo é sempre degustado por Multinacionais e Banqueiros.
Essa doutrina neoliberal, que mais parece a doutrina da predestinação calvinista do século XVI, onde só os ricos são os escolhidos e os pobres se encontram nesta situação por serem incompetentes, incapazes e desprezados por Deus está em pleno vigor neste momento. Vemos, constantemente, que na história nada é vitalício. A eterna luta de classes que movem essas mudanças está em vigor. Resta saber até quando os mais explorados neste sistema continuarão inertes. Sabemos que a luta é árdua e pela atual conjuntura bastante duradoura. A educação pífia, a saúde precária e a miséria dos trabalhadores é a realidade atual. A mudança virá. Resta saber em que dia, ano ou século. No governo Dilma, jamais.  
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Feudalismo e Absolutismo - Questões Objetivas

Feudalismo e Absolutismo 1. (Mackenzie) O florentino Nicolau Maquiavel (1469 - 1527) rompeu com a religiosidade medieval, estabelecendo...