segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A Consolidação Neoliberal no Brasil


O capitalismo no Brasil sempre esteve presente como sistema político predominante. Num primeiro momento predominando o nacional-estatismo, porém sem o bem estar social preconizado por Keynes, e posteriormente um capitalismo transnacional, iniciado na década de 1990 durante o governo Fernando Collor de Melo. Vale lembrar que mesmo nacionalista, o capital estrangeiro nunca esteve desligado da economia deste país, pelo contrário, caso fosse para somar ao desenvolvimento da nação a parceria era sempre bem vinda.
Guido Mantega, hoje ministro da economia, fez um excelente trabalho sobre as teorias e modelos econômicos que atuaram no Brasil a partir de 1930. A teoria desenvolvimentista é retratada em “A Economia Política Brasileira”, onde o surgimento da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) na década seguinte tornar-se-á o principal baluarte da industrialização no país.
Vale ressaltar que, naquele momento, a necessidade de um surto industrial no Brasil era unânime até mesmo entre os esquerdistas, já que segundo o PCB para se chegar ao socialismo era preciso o desenvolvimento das instituições burguesas, pois viam o país como arcaico, onde ainda prevaleciam relações feudais.
As interpretações equivocadas dos partidos de esquerda contribuíram para esta visão deturpada da realidade brasileira, onde Leandro Konder em sua “A Derrota da Dialética” nos ajudará a compreendê-las. A metodologia do comunismo stalinista foi um duro golpe nas ideias marxistas por todo o mundo. O PCB não só aceitou esta conjuntura, como também abandonou a via revolucionária para chegar ao poder. A conciliação de classe tornou-se mais plausível.
Intervencionistas e liberais sempre comandaram a economia e a política deste país, onde durante a década de 1990, os segundos entraram com mais eficácia nesta disputa e permaneceram como modelo econômico vigente até os dias atuais. A análise do porque desta permanência possibilita a explicação da atual situação do Brasil neoliberal. Ivo Lesbaupin organizou um livro, “O Desmonte da Nação”, no qual diversos estudiosos interpretaram o modelo neoliberal de FHC, sendo de grande valia para a compreensão do governo Lula.
Logo, percebe-se que a consolidação deste modelo é uma realidade que está sendo conduzida com muita precisão pelos petistas. A vitória do neoliberalismo no Brasil serve para explicar a falência econômica, política, social e cultural da classe trabalhadora que alienada e preocupada com a sobrevivência deixa as principais decisões do país nas mãos de usurpadores e corruptos.
A mudança nos objetivos dos homens que praticam política também é um reflexo deste modelo vigente hoje neste país. A luta por um Brasil mais decente e democrático, tanto no sentido político, quanto no sentido econômico, visando uma melhor distribuição de renda, foi substituída por anseios pessoais. Um carro importado, uma gorda conta bancária, uma alta posição no Governo cooptou aqueles antigos lutadores de nossa sociedade. Veja o exemplo daqueles opositores da ditadura que atualmente são os mais eficazes inimigos da classe trabalhadora.
O PCB da década de 1930 interpretou erroneamente um Brasil semi-feudal e dominado pelo imperialismo sem a possibilidade de uma revolução socialista, sendo necessário o desenvolvimento capitalista para se chegar ao socialismo, num modelo denominado por Guido Mantega de “democrático-burguês”.
Atualmente não há mais como haver erro de interpretação da realidade brasileira. As condições miseráveis, devido a esse modelo econômico, estão visivelmente esboçadas. O que dificulta uma possível mudança é o analfabetismo funcional presente na população brasileira. Emir Sader classifica como o “novo analfabetismo”, no qual a mídia associada a esse modelo neoliberal contribui para a inércia da classe trabalhadora, manipulando informações de cunhos principalmente quantitativos, desprezando a boa qualidade.
Segundo Armando Boito Júnior o Brasil nunca viveu um estado de bem estar social. Portanto a política desenvolvimentista das décadas de 1950-60 se concretizou em torno de um Estado onde esta incipiente burguesia industrial pouco realizou para a melhoria da classe trabalhadora. Apesar da CLT conseguir atender a esses anseios, Vargas minou qualquer aproximação dos socialistas aos proletários, através de sua política sindical corporativista e atreladora.
Conforme Ivo Lesbaupin o neoliberalismo é um fenômeno interior, determinados pelos governos locais. Portanto privatizar essa ou aquela empresa estatal é um desejo dos grupos políticos que estão no poder.
Dizer que o neoliberalismo é inevitável e invencível é uma falácia. O mito que se deve quebrar com relação a este modelo político-econômico é o do crescimento. A imprensa sempre atuou e atua como divulgadora e aliciadora desses índices, cujos gastos públicos são suprimidos e a classe trabalhadora é a mais prejudicada, através de baixos salários e excessiva jornada de trabalho. Esse tal crescimento não é acompanhado de um desenvolvimento, pois os ricos ficam milionários e os pobres se aproximam da miséria.
O Governo e a Imprensa sempre propalaram um crescimento econômico desde a época de FHC, porém esta melhora não é sentida pela maioria da população, fazendo uma clara referência ao milagre econômico do Regime Militar. Nas palavras de Delfim Neto “vamos fazer o bolo crescer para depois reparti-lo”. No entanto apenas uma minoria participa deste aniversário, pois este mesmo bolo é sempre degustado por Multinacionais e Banqueiros.
Essa doutrina neoliberal, que mais parece a doutrina da predestinação calvinista do século XVI, onde só os ricos são os escolhidos e os pobres se encontram nesta situação por serem incompetentes, incapazes e desprezados por Deus está em pleno vigor neste momento. Vemos, constantemente, que na história nada é vitalício. A eterna luta de classes que movem essas mudanças está em vigor. Resta saber até quando os mais explorados neste sistema continuarão inertes. Sabemos que a luta é árdua e pela atual conjuntura bastante duradoura. A educação pífia, a saúde precária e a miséria dos trabalhadores é a realidade atual. A mudança virá. Resta saber em que dia, ano ou século. No governo Dilma, jamais.  
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Um comentário:

  1. Engraçado que essa política de aliança com a burguesia, inicialmente proclamada pelo então PCB (depois diluído em PPS e em tantas outras siglas), parece ter sido adotada por toda a esquerda brasileira. Sem falar no PT, que ainda parece não ter resolvido o conflito entre suas inúmeras tendências e, por isso mesmo, se perde em teses que tentam disfarçar esse neoliberalismo, o que dizer do PCdoB??? Lembro da paródia da marchinha de carnaval que eles cantavam nos anos 80 para os partidários do PCB: "É ou não é piada de salão aliar com a burguesia pra fazer revolução?" Mas o que dizer do PCdoB pós glasnost na Albânia??? Não são aliados, mas cúmplices do sistema neoliberal, sem o menor pudor. Exemplos não faltam...

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